Desserviços ecossistêmicos de árvores urbanas para a qualidade do ar

Embora as árvores forneçam serviços ecossistêmicos vitais, elas também podem afetar negativamente a qualidade do ar, um conceito conhecido como “desserviços”. Artigo publicado na revista Wiley discute a importância das árvores nesse processo.

1. Compostos Orgânicos Voláteis Biogênicos (BVOCs)

As árvores produzem BVOCs (do inglês Biogenic Volatile Organic Compounds), substâncias gasosas que variam em propriedades químicas e podem desempenhar um papel na formação de Ozônio troposférico, aerossóis orgânicos secundários e Material Particulado (PM) em ambientes urbanos.

Fonte: Springer Nature Link

Emissão Específica: A liberação de BVOCs é altamente espécie-específica e influenciada por condições ambientais (luz solar, temperatura, água). Muitas árvores urbanas comuns na europa, como Populus e Quercus, emitem grandes quantidades de isopreno, para as espécies comuns na arborização urbana brasileira, ainda se carece de estudos adequados para predizer as corretas quantidades.

Potencial de Formação de Ozônio (OFP): Se houver um nível suficientemente alto de NOx, o isopreno pode contribuir substancialmente para a formação de O³ na atmosfera, podendo superar a capacidade de deposição das próprias árvores. O OFP é calculado multiplicando as emissões biogênicas pela “reatividade incremental máxima” (MIR), que é específica para cada composto (e.g., 9,1 g de O³ por grama de isopreno).

2. Pólen e Partículas Biológicas

O material particulado biogênico (BPM) é emitido principalmente por fungos (esporos) e plantas com flores (pólen).

Alergenicidade: O pólen é um alérgeno conhecido. Embora seja considerado um dos principais disserviços da vegetação urbana, sua alergenicidade específica raramente é investigada como critério de seleção.

Interação com Poluição: A alergenicidade do pólen, apesar de ser espécie-específica, é modificada por poluentes atmosféricos. Por exemplo, altos níveis de O³ ambiental levam ao aumento da alergenicidade do pólen de bétula. Isso cria um dilema para os planejadores urbanos: plantar árvores perto da fonte de poluição para maximizar a remoção pode, ao mesmo tempo, aumentar a alergenicidade dos grãos de pólen.

Traços Funcionais Cruciais para o Planejamento Urbano

Uma avaliação holística dos traços das árvores é necessária, pois um traço benéfico para um serviço (ex: sombreamento) pode ser prejudicial para outro (ex: uso de água).

Os traços das árvores considerados mais relevantes para a mitigação da poluição do ar são:

Traço FuncionalImpacto na Qualidade do Ar / Serviço EcossistêmicoExemplo de Espécie / Contexto
Densidade da CopaAlta densidade é potencialmente benéfica para sombreamento e remoção de poluição.Pode ser prejudicial para o uso de água.
Longevidade da FolhagemInfluencia a capacidade de captação e deposição ao longo do ano.É um critério de classificação para a adequação de controle de PM 2.5
Estratégia de Uso da ÁguaEspécies anisohídricas são mais eficientes na captação de O³ do que as isohídricas.Anisohídricas: P.opulus, carvalhos decíduos; Isohídricas: Pinus, Platanus5.
Emissão de BVOCs ReativosAlto potencial de formação de O³ (OFP)914.Espécies como Quercus e Platanus têm alto OFP.
Propriedades da SuperfíciePresença de ceras e pelos (tricomas) melhora a deposição de partículas.Tilia apresenta deposição de PM muito maior que Platanus devido às ceras.

Espécies Comuns na Europa

Algumas espécies são altamente abundantes na maioria das áreas urbanas europeias, como Tilia spp. (Tília), Acer spp. (Ácer) e Platanus spp. (Plátano). A seleção regional varia, com espécies de Pinus mais abundantes no sul da Europa e Prunus spp. mais presentes no norte.

Conclusão e Perspectivas para Cidades Inteligentes

A seleção de árvores deve ir além da mitigação da poluição21. Outras propriedades, como o potencial de mitigação de calor, tolerância ao estresse e consumo de água, merecem consideração21.

Tolerância ao Estresse: Em áreas altamente poluídas, a tolerância ao estresse pode ser o primeiro critério de seleção, mesmo que o ganho associado em serviços ecossistêmicos seja pequeno. Espécies de Pinus, por exemplo, são favorecidas no sul da Europa por serem eficientes na remoção de poluição e resistentes à seca.

Mudanças Ambientais Futuras: Cenários climáticos projetam o aumento das temperaturas e das concentrações de CO², o que exacerbará o estresse urbano e pode levar ao aumento da emissão de BVOCs e à maior alergenicidade do pólen.

É fundamental o desenvolvimento contínuo de modelos e a coleta de dados relevantes que integrem a complexidade das interações entre os traços das árvores e as condições ambientais mutáveis.

Referências

GROTE, Rüdiger et al. Functional traits of urban trees: air pollution mitigation potential. Frontiers in Ecology and the Environment, v. 14, n. 10, p. 543-550, 2016.

1 comentário em “Desserviços ecossistêmicos de árvores urbanas para a qualidade do ar”

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